"Café Proseado" Discute o Contestado com professores e escritores
Mais de 60 pessoas se reúnem
na próxima sexta-feira, 7, em Irineópolis
A
empresária do setor de turismo em Irineópolis (Planalto Norte) Léa Unterstell
Corrêa recepcionará grupo de amigos, escritores, professores de história e
historiadores, nesta sexta-feira, 7, em sua Estância Hidromineral Águas de
Valões, para o “2º Café Proseado”. Haverá palestra e lançamento do livro do
professor Paulo Pinheiro Machado, “Nem Fanáticos, nem Jagunços: Reflexões sobre
o Contestado. O escritor e palestrante é doutor em História e professor da
Universidade Federal de SC. A obra é uma coletânea dos melhores temas e textos
mostrados no 1.º Simpósio do Centenário do Contestado, promovido em maio do ano
passado na UFSC.
Participarão
ainda, professores de historia dos municípios de Canoinhas e de Irineópolis,
secretárias municipais de educação e do setor de cultura, e os prefeitos de
Canoinhas, Beto Faria e Juliano Pereira, de Irineópolis. Confirmaram presença,
cerca de 60 pessoas diretamente ligadas ao tema Contestado.
CONHECIMENTO
Apesar
do crescente número de publicações, o conflito do Contestado é ainda muito
pouco conhecido pela população brasileira. Durante muito tempo foi tratado como
um assunto “regional”, de interesse apenas dos catarinenses e paranaenses.
Qualquer estudo superficial sobre o movimento conclui que se tratou de um
conflito de grandes proporções, atingindo uma região maior que 30 mil km² e uma
população superior a 100 mil habitantes.
Nos
quatro anos de guerra, mais de 10 mil mortos. Além disso, as questões que
motivaram o conflito estavam presentes em várias partes do interior do Brasil.
Mas já existe uma tendência à nacionalização do tema, tendo sido questão do
Enem e de vestibulares no Rio, em Minas e no Maranhão. O atual desafio é a
confecção de material didático e paradidático com maior profundidade e formação
de professores, de ensino fundamental e médio, que estejam preparados para
trabalhar com esses conteúdos.
MEMÓRIA VIVA
Ainda
há uma memória viva muito interessante na região, mas se trata de uma memória
de segunda geração (mesmo de indivíduos que eram crianças na época da guerra, a
sua memória atual é muito mais uma reelaboração do que era dito por seus pais).
Ela apresenta com frequência muitas imprecisões e misturas de personagens e
eventos do próprio conflito, mas é inegável a contribuição, como fonte, para
jornalistas e historiadores. O jornal O Estado de São Paulo fez uma
interessante reportagem com sobreviventes, publicada em fevereiro de 2012. Nas
falas deles ainda está presente o medo e a dor por terem passado por um evento
tão impactante. Como a memória sobre o conflito vem sendo colhida por diversos
pesquisadores desde os anos 1950 (Euclides Felipe, Vinhas de Queiroz, Cabral,
Douglas Teixeira Monteiro, Thomas Pieters e outros mais recentes), quando
muitos participantes da Guerra ainda estavam vivos, é difícil determinar se
algo novo pode ser dito por atuais depoentes.
CINCO TÓPICOS SOBRE O
CONTESTADO
1.
A questão de terras e a expropriação de posseiros e ervateiros caboclos. Isto
ocorreu em três processos diferentes: a) A gradativa concentração fundiária
promovida por pecuaristas de Lages, Curitibanos e Campos Novos, que
transformavam em agregados os posseiros e sitiantes independentes nos limites
de suas fazendas, em vias de legitimação e formalização no início da República.
b) A concessão de até 15 km de cada lado do leito da Estrada de Ferro São
Paulo–Rio Grande, para a empresa norte-americana, que envolveu uma expulsão
repentina e numerosa de posseiros dos vales dos rios do Peixe, Negro e Iguaçu
médio e c) A grilagem de coronéis da Guarda Nacional do Paraná sobre os
territórios contestados por Santa Catarina, que promoveu a concentração
fundiária e a privatização de ervais nativos na região de União da Vitória, do
rio Timbó, em Três Barras, Rio Negro, Papanduva e Itaiópolis.
2.
O Coronelismo e sua relação de violência política e subalternização dos pobres
do campo. Há uma forte crise política nos anos 1911 a 1918, com a quebra de
laços clientelísticos, principalmente nos municípios de Curitibanos e
Canoinhas.
3.
A militarização crescente da questão de limites por parte dos Estados do Paraná
e Santa Catarina. Muitas autoridades municipais mantinham grupos de vaqueanos
armados, disponíveis para a ação nas regiões contestadas. Muitas vezes esses
grupos armados eram um poder real local, o que desestabilizava a vigência de
outros órgãos de Estado.
4.
A herança política e militar da Guerra Federalista (1893-95). A campanha
federalista, por recrutar agricultores e peões para os dois lados da contenda
trouxe à população do planalto uma tradição de luta e o conhecimento de
práticas de combate. O planalto catarinense, pela própria fragilidade do
aparelho de Estado, tornou-se um ponto de recepção e asilo de muitas lideranças
federalistas do Paraná e do Rio Grande do Sul.
5.
A tradição cultural de João Maria. A trajetória do monge ou dos diferentes
indivíduos que assumiram a identidade de João Maria criou um espaço de
autonomia e organização da população sertaneja, independente do Estado e do
Clero. Como consequências da Guerra, consolidou-se a concentração fundiária nas
regiões de campos naturais, reforçaram-se os poderes dos coronéis, diminuiu a
autonomia e a independência de pequenos posseiros e sitiantes. Vastas regiões
do meio-oeste e oeste de Santa Catarina e do Paraná foram colonizadas por
imigrantes europeus e seus descendentes, empurrando a população nacional
cabocla e indígena mais a oeste e para as regiões mais montanhosas e menos
férteis.
VISTA PARCIAL DA ESTANCIA HIDROMINERAL ÁGUAS DE VALOES - IRINEÓPOLIS - (SC)
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Fonte:
Cartaz do evento-
Reprodução Reportagem e Edição: Lúcio
Colombo
Colaborou: Ederson Lima
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